A sessão solene da Assembleia Municipal da Mealhada, comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, recordou o passado, mas centrou-se no futuro, com mensagens para os jovens de que a Democracia deve ser protegida. “Acredito que a liberdade é frágil e exige luta permanente para a sua conservação”, disse Odete Isabel, uma das primeiras cinco mulheres a ser eleitas presidente de Câmara no pós-25 de Abril.
Também Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, deixou o aviso: “o 25 de Abril não tem fim, é para ir construindo, é para obrigar à nossa vigilância!”.
Os jovens estiveram no centro dos discursos alusivos aos 50 anos do 25 de Abril, na Assembleia Municipal da Mealhada. Porque é importante relembrar o antes, “o #não podias” fazer o que agora é permitido e dado como adquirido e porque o 25 de Abril continua a ser uma luta de todos os dias.
“Os nossos jovens têm que saber o que era o antes do 25 de Abril para não voltarmos para trás. Os jovens da Mealhada sentem os valores de Abril, por exemplo, com o Plano Municipal da Juventude, onde as suas ideias são valorizadas. A forma como os jovens são chamados a intervir, em projetos e decisões torna-os parte integrante dos destinos do Município”, afirmou o António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal da Mealhada.
E deixou o desafio de quer os jovens sejam “guardiões dos valores da democracia” e “agentes de transformação” com uso de armas como a “criatividade, a irreverência, a energia, o dinamismo”.
Também Ana Manarinno, do Mais e Melhor Movimento Independente, escolheu dirigir-se aos jovens. “Os jovens de hoje continuam a ser agentes de mudança para uma sociedade mais justa e inclusiva”, afirmou, explicando que é importante explicar-lhes que o “25 Abril é o momento”, “está a acontecer” todos dias e exige “uma participação ativa e consciente”, sublinhando a importância e pertinência da hashtag “não podias” usada neste cinquentenário. “Hoje eu não preciso de pedir a palavra, ela foi-me pedida”, afirmou.
Paulo Pratas, do Partido Comunista Português, sublinhou a necessidade de se continuar “a defender valores, contra a mentira e falsidade”, e contra a tentativa de “uma reescrita da história que pretende desvalorizar” as conquistas da Revolução.
Por parte da Coligação Juntos Pelo Concelho da Mealhada, Pedro Semedo, referiu a importância cívica de evocar datas comemorativas, mas defendeu a necessidade de se ir mais além. “Para nós é pouco. Devemos pensar seriamente no caminho a percorrer, nos acordos a tomar nas matérias essenciais. Não queremos que venha a ser necessário fazer outro 25 de Abril”, afirmou.
A sessão foi marcada pela presença de Odete Isabel, a primeira presidente de Câmara da Mealhada após a Revolução, e por Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, ex-presidente da Câmara, e militar destacado na Guiné. Ambos testemunharam dificuldades do Estado Novo e os primeiros dias de liberdade.
Odete Isabel, que falou em nome da bancada do Partido Socialista, recordou a dificuldade de ser mulher antes da Revolução. No final do liceu fui estigmatizada pela desigualdade de género. Queria ser cirurgiã, mas era mulher. Aceitei seguir farmácia, mas com a condição de ser licenciada. E isso só era possível na Universidade do Porto”, lembrou. “Ali conheci Maria de Lurdes Pintassilgo, a quem devo muitas das linhas orientadores da minha vida: responsabilidade social, direitos das mulheres, direitos humanos”. “Há uma frase dela que me ficou para sempre: a Humanidade são duas asas, uma é o homem, outra a mulher; as duas têm que estar perfeitamente equilibradas para a humanidade progredir”.
E partilhou as dificuldades do primeiro Executivo, com parcos recursos económicos, mas também as conquistas. “Termos conseguido generalizar, a todo o território, o ensino pré-primário é uma ação pioneira de que muito me orgulho”, afirmou.
E concluiu com uma mensagem para os jovens. “Acredito que a liberdade é frágil e exige luta permanente para a sua conservação”.
Carlos Cabral recordou também os tempos de da Revolução e a expetativa do que seria o país. “No domingo seguinte ao 25 de Abril, estive com mais cinco ou seis pessoas à espera de um passageiro especial na Pampilhosa: Mário soares e a esposa. Mário Soares Desceu da carruagem, esteve a conversar connosco e deu-nos uma perspetiva do que ia ser o país. E acertou quase 100 %.
Quanto ao futuro, Carlos Cabral não tem dúvidas. “Mal seria que estivesse tudo feito. O 25 de Abril não tem fim, é para ir construindo, é para obrigar à nossa vigilância”, afirmou.
À sessão solene seguiu-se a inauguração da obra de Bordalo II, na parede do Tribunal da Mealhada. O artista criou duas peças, uma da série “Big Trash Animals”, e outra da ´serie “Provocative”. A primeira é um pica-pau de cabeça dourada, um animal conotado com a liberdade construído exclusivamente com lixo, e a segunda é um comprimido da liberdade. “Como se fosse uma coisa quase acessível a todos, e que de repente encontrávamos e tomávamos”, explica o artista.