Todos aqueles que têm o hábito de acompanhar os boletins informativos que todos os dias emergem à luz pública seguramente notam que as instituições políticas se encontram num grave estado de crise. A sua qualidade é fraca, sendo esta debilidade uma característica que, infelizmente, remonta aos primórdios das suas origens no século XII (pouco mais que os dedos das mãos serão suficientes para fazer a contagem de quem foi verdadeiramente competente na sua posição de poder político), e, como acontece num edifício, quando os alicerces não são sólidos, tampouco a construção é segura. Contudo, havendo ocasionalmente conjeturas de época capazes de disfarçar esta fragilidade inata, os defeitos acabam por sobressair quando os ventos não sopram a nosso favor. E ao primeiro abalo tudo treme, sendo apenas uma questão de tempo até tudo acabar por ruir.
Acontece que os terramotos, nas últimas décadas, têm sido frequentes e têm atacado os mais diversos setores sociais: tivemos uma grave crise económica que ainda não foi completamente ultrapassada, seguiu-se uma pandemia que mostrou o caos que é o estado da saúde em Portugal, logo depois veio uma guerra que evidenciou que o mundo vive num estado volátil de paz, sem esquecer a severa inflação que, em parte, se deve a esta guerra, e podemos ainda falar de crises na educação, justiça, habitação, no setor bancário, entre muitos outros contextos. Ora, estima-se que os governos legitimamente eleitos sejam capazes de lidar com estes alvoroços e ameaças, mas aquilo a que assistimos é um despejar de medidas sem sentido e que mais não são uma tentativa de atirar o barro à parede na esperança que cole e tape os buracos da sua incompetência. Mas não é isso que acontece, e é o país que, lentamente, vai caindo no buraco, que apenas aumenta em diâmetro porque os problemas acumulam-se e não há soluções que nos valham, porque, quem lá está, limita-se a tapar o buraco com algodão doce.
Porque os Homens sérios, inteligentes e competentes, conhecedores do lodo e do lixo que povoa este pequeno pântano chamado Portugal, preferem manter-se afastados do mundo da política a morrer de vergonha por se verem imiscuídos na lama como porcos de um curral. Haverá exceções, obviamente, e não devemos nunca tomar a parte (mesmo que seja a maior parte) pelo todo: porque há realmente quem tenta elevar o nível dos debates políticos e procura avidamente soluções para os problemas do país. Mas se formos ao supermercado comprar ovos e detetarmos que um está partido, essa constatação é suficiente para que não compremos essa caixa, é até suficiente para duvidar de todas as outras caixas de ovos e da própria cadeia de supermercados. E o mesmo acontece no mundo da política: basta uma maçã podre para duvidarmos da salubridade de todo o pomar.