Opinião pela CDU Anadia: O direito de Questionar e discordar

Foi pela mão do meu pai que entrei na política. E são as palavras dele que norteiam a minha participação neste campo.

E é bom que digamos claramente que “criticar não significa, como felizmente pouca gente supõe, falta de lealdade; criticar afoitamente foi e será sempre colaborar, quando a pessoa que critica tal como a que recebe a crítica forem conscientes do seu valor e souberem impor-se pelas suas qualidades de carácter, distinção e aprumo.” (…) e que tenham a consciência de que a verdadeira política só se fará com dignidade e sem subjugação aos interesses privados”. (Manuel Martins da Costa, 1964, discurso de fim de mandato como presidente da junta de Sangalhos)

Isto a propósito do recente bruaá sobre um comunicado do PS autárquico e do posterior esclarecimento da responsabilidade da maioria que gere os destinos da autarquia, afixado na página do município. Nada me move a favor do PS, partido com o qual, politicamente, não me identifico, nem o PS precisa que eu seja sua defensora oficiosa.

Mas convenhamos que frases como “Se o assunto não fosse sério, poder-se-ia classificar este comunicado (do PS) como mais um ato de comédia a juntar a outros que alguns dos protagonistas deste partido no concelho nos têm habituado” ou “recorre a atos de malabarismo demagógico que apenas reforçam a já evidente falta de coluna vertebral desta concelhia”, (sublinhado meu) no comunicado (Esclarecimento aos Anadienses) do Município, afixado a 8 de Março na sua página de facebook, não me parecem dignas quando se trata de uma resposta institucional. Na minha opinião a página de facebook do município deve ser para informar a população (o que nem sempre acontece, nomeadamente em assuntos mais candentes de política autárquica) e nunca para criticar e achincalhar adversários políticos (inimigos pessoais?), principalmente quando apagam todos os comentários ou bloqueiam a possibilidade de contestação (como foi este caso).

Um eleito carrega em si toda a responsabilidade de um programa que apresentou ao eleitorado e de todos os anseios de quem em si depositou o voto e a representação. É em nome dos que lhe deram voz que atua e, quando não o faz nos órgãos próprios, está a falhar, seja por comodismo, cobardia ou medo (para não dizer oportunismo, quando procura melhores “ventos” e outro posicionamento político futuro).

Tenho dificuldade em acompanhar o “vai e vem” de alguns “políticos” da minha terra que ora se assumem como oposição ao partido/movimento que gere os destinos da autarquia há mais de 40 anos, ora, num volte face, anunciado ou surpreendente, mudam de perspetiva e opinião. E quais recém-convertidos cristãos novos olham e tratam a oposição (onde já estiveram) com desdém, sobranceria ou como uma afronta direta às suas pessoas.

E tenho ainda mais dificuldade em entender o agastamento e a arrogância com que, o atual executivo “aceita/atura” as intervenções dos que, no lugar próprio, de forma correta e educada, levantam a voz procurando explicações ou dando sugestões.

É com frequência que vejo como, na Assembleia Municipal, do alto do “pedestal” (em sentido literal e figurado), é com desagrado que respondem de forma evasiva às questões apresentadas pela oposição, como se os norteasse a certeza de que não podem nem devem ser contestados nem precisam de dar satisfações/explicações.

Nem consigo entender como, para muitos dos eleitos pela maioria, a pressa em sair das sessões seja mais importante que ouvir os “outros” quando pedem os esclarecimentos que julgam necessários para cumprirem o papel que um dia juraram assumir. Ou como, comodamente apoiam uma agenda que não quiseram ou puderam estudar quando, muitas vezes, acabam por emitir opiniões desfavoráveis quando fora do local certo.

Não compreendo os eleitos que desde o início da legislatura não assumem funções ou as abandonam a meio do percurso, nem entendo os que, assumindo funções, mantenham uma postura de meros espetadores, figuras de corpo presente, sem mais intervenção do que um levantar de braço para votar.

Estar na política não é fácil e dá trabalho.

Dá muito trabalho a quem vence as eleições para agir em conformidade e cumprir as suas propostas eleitorais (que não eleitoralistas) respeitando as opiniões e as dúvidas das minorias e prestando contas das suas opções e decisões.

Dá trabalho a quem, na oposição, e em nome dos que representa e do programa que norteou a sua candidatura, exige explicações e apresenta soluções.

Trabalho que obviamente não é devidamente remunerado, mas missão a que cada um voluntariamente se propôs levar a cabo e que deve honrar, intervindo positivamente em nome dos que neles confiam para os defender e representar.

Dá trabalho e exige coragem, respeito e humildade.

 

Fátima Flores, militante do PEV, eleita na Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Arcos e Mogofores

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