No cenário caótico do mundo contemporâneo emerge do caos um fio que permite ligar as mais complexas questões que temos enfrentado ao longo dos tempos mais recentes: uma crise em torno da verdade. De facto, cremos que, ao confrontarmo-nos com os deságios de hoje, se tem tornado evidente que grande parte dos nossos problemas derivam diretamente de uma luta fundamental, ainda que por vezes desprezada, para discernir e manter a verdade. Explicamo-nos: vivemos numa era em que somos constantemente bombardeados por informação, uma informação que nem sempre é neutra. Por isso, não podemos supor que a verdade se encontra facilmente: pelo contrário, aumentam as narrativas conflitantes que propagam informações que se querem passar por factuais quando não o são, o que se traduz numa quebra na confiança nas instituições sociais.
Vivemos, sem dúvida, numa era de pós-verdade: uma era onde as emoções e as crenças subjetivas se sobrepõem a factos objetivos, ofuscando-os, adulterando-os e, no limite, eliminando-os do domínio público. Diante desta realidade, é imperativo que sejamos capazes de reconhecer que a crise da verdade permeia todos os aspetos das nossas vidas, seja na política ou em outras esferas, entranhando-se no tecido social, que é o mais afetado e tem que lidar com as consequências tangíveis dessa crise. E é igualmente relevante compreender que a desconfiança generalizada nas instituições compromete não apenas o presente, mas também o futuro: porque a crise da verdade cria um terreno fértil que permite que floresça a polarização social e corroa a confiança que devia existir entre os seres humanos.
Definitivamente, diante da crise de verdade que enfrentamos e afeta o mundo por inteiro, devemos envolver-nos na procura da verdade, mantendo um diálogo aberto com todos, cultivando o pensamento crítico e procurando incessantemente factos verificáveis ou falsificáveis. Apenas através de um compromisso sério, partilhado e alargado com a verdade podemos navegar pelas complexidades dos desafios contemporâneos e, assim trabalhar e caminhar em direção a um futuro mais informado e unido, longe das patifarias que se limitam a distorcer e mentir e a destruir a sociedade por inteiro.
por Carlos Vinhal Silva