Opinião por Carlos Vinhal Silva: A nossa responsabilidade social

Cada ação tem uma reação e todos os atos têm um responsável pela sua prática. Dizer que as ações não têm consequências seria o mesmo que contar uma mentira e impele-nos a honra e a verdade que não o façamos. Ora, se as ações têm uma consequência, então, logicamente, têm que ter também um autor a quem a possamos imputar, alguém que se responsabilize por elas e pelos efeitos que delas derivem, sejam positivos ou negativos. É aqui que se inicia a nossa responsabilidade social e os seus limites são apenas os limites da consciência.

A minha consciência dita-me o que devo e o que não devo fazer, impõe-me que me responsabilize apenas pelas ações ou omissões que são efetivamente minhas, pelos atos que pratiquei ou deixei de praticar e permita que os demais, por mais próximos que de mim sejam (exceção feita aos descendentes ou subordinados), recolham os frutos maduros ou podres semeados pelo seu comportamento. O tempo que precede o meu nascimento não me diz respeito em matéria de assunção de responsabilidades, uma vez que em nada contribuí para a sua glória ou nefastidão, pelo que não me considero passível de ser julgado pelos mesmos. Não tem sentido que eu, ainda hoje, me desculpe e peça perdão por eventos que aconteceram em gerações e tempos passados. Que valor tem o meu pedido de perdão se não fiz nada verdadeiramente mau nesses acontecimentos? O colonialismo não é responsabilidade minha, a escravatura não é responsabilidade minha, nenhum holocausto foi realizado sob a minha responsabilidade, apenas para exemplificar de forma breve e, por isso, apesar de lamentar, desde uma perspetiva contemporânea, a sua existência, não posso, em boa consciência, desculpar-me perante as suas vítimas porque não fui eu o culpado da sua inegável vitimização.

Aquilo por que sou verdadeiramente responsável é pelo trato digno que devo a todos os seres humanos, independentemente da sua cor ou sexo, crença ou ideologia, ou qualquer outro critério que permite que nos diferenciemos sem nos menorizar ou inferiorizar perante os outros. Sou responsável pelas justiças e injustiças que cometo no tempo presente e no tempo futuro, sou o exemplo que deixo no mundo e não o exemplo que foi deixado. Obviamente que o colonialismo, a escravatura e os holocaustos são episódios terríveis da nossa história, alguns deles praticados pelo grupo a que etnicamente pertenço, mas essa pertença, porque não é por mim escolhida, não me torna responsável pelo seu acontecimento. A minha responsabilidade social é “apenas” a de evitar, no limite das minhas capacidades humanas, que se repitam; a minha responsabilidade social é contribuir para a harmonia e paz; a minha responsabilidade social é assumir os erros que efetivamente cometo. É por isso que eu luto, é “apenas” isso que me dita a minha consciência.

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