Opinião por Carlos Vinhal Silva: A perpétua tentação do poder

Na intrincada dança de governos e governações, existe uma verdade que tende a permanecer inabalável ao longo da história: o poder nunca é facilmente abandonado. No entanto, após um período mais ou menos prolongado de relativa estabilidade nas democracias ocidentais temos verificado que aforismo celebrizado por George Orwell, na obra 1984, “Ninguém toma o poder com o intuito de o deixar”, tem ganhado crescente relevo, bastando, para tal, recordar o caso da invasão do capitólio e o possível envolvimento de Donald Trump no mesmo, ou, com maior proximidade geográfica, a forma como o Partido Socialista em Portugal se tem agarrado ao poder e ignorado sucessivos escândalos e casos de manifesta incompetência, ou ainda, em Espanha, a possibilidade do PSOE emprestar deputados a outros partidos no seu intuito de preservar o poder que ainda detém. Ora, serviu a máxima apresentada para demonstrar o que ocorre nos corredores do poder, lembrando-nos simultaneamente da inclinação humana de nos agarrarmos firmemente à autoridade, uma vez que a conquistamos.

PUBDe facto, apesar dos exemplos mais recentes, tem sido assim ao longo de toda a história da civilização humana: quando se ascende a posições de poder e prestígio, apesar de se afirmar a intenção de servir o bem maior e a comunidade, uma vez alcançada essa cúspide, não há forma simples de nos tirar de lá. E disto temos sido testemunhas repetidas, vendo como o fascínio inebriante da autoridade e do poder pode desviar mesmo os indivíduos com as melhores intenções imagináveis ou as mais nobres pretensões possíveis. Neste sentido, é imprescindível que nos lembremos constantemente de que o poder tem o potencial de distorcer perspetivas e confundir as fronteiras do bem e do mal, do certo e do errado, o que não significa que todos aqueles que exercem o poder estejam condenados a priori a sucumbir à sua influência corruptora: trata-se apenas de um alerta para essa possibilidade.

Devemos, portanto, permanecer vigilantes e ser vocais na exigência de competência e de um comportamento ético e traduzir essa exigência nas urnas em cada momento de eleição. Reconhecer esta responsabilidade que é nossa e não pode ser delegada é o primeiro passo para criar um mundo onde a liderança e a governação seja sinónimo de integridade e compromisso com o bem-maior e o bem-comum. Porque a citação de Orwell constitui e permanecerá para sempre uma verdade indelével relativamente à influência corruptora do poder; e terá que ser sempre tomada como um aviso para possamos traçar um futuro onde a liderança eleva e capacita os valores da dignidade e da liberdade. E disto mesmo nos lembra também as palavras de Ingersoll, escritor norte-americano, que diz “Nada revela o verdadeiro caráter [de um Homem] como o uso do poder”. Tomemos cuidado para não ser subjugados por um poder tirano que visa destruir as raízes da civilização, mantenhamo-nos alerta para que possamos continuar o nosso caminho na senda da liberdade.

 

Carlos Vinhal Silva

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