O meu Avô costumava dizer que aquilo que temos não está no que ganhamos, mas naquilo que poupamos. É neste pensamento do meu Avô, e derivando-o um pouco para pensamentos meus, que encontrámos mote para o texto que redigimos, cujo título enunciado é uma clara adaptação do ensinamento que ainda hoje recordo. De facto, aquilo que temos está efetivamente no que poupamos, do mesmo modo que não temos aquilo que nos dão, mas aquilo que conservamos, estimamos e cuidamos.
Ora, muitas vezes são-nos oferecidas coisas nas quais não vemos valor ou utilidade, mas essa nossa visão nem sempre se revela certa; frequentemente lamentamos o pouco tempo que gastámos com aquilo que nos dava alegria sem que nos apercebêssemos e lamentamos também o tempo que desperdiçámos com o que não valia a pena nem o esforço que lhe investimos. É assim porque o valor ou a importância das coisas depende dos olhos que as observam e das mãos que as recebem, os mesmos olhos que não são capazes de enxergar o que apenas o coração vê, as mesmas mãos que têm o poder e a autoridade de escolher guardar e cuidar da oferta ou deixá-la esquecida e a apodrecer ou a simplesmente deitá-la no lixo.
Definitivamente, não temos aquilo que nos dão: temos aquilo que criamos em nós e nos outros, sementes que têm sempre o seu fruto, dependendo de nós que não sejam frutos amargos com que nos amargamos a nós ou aos outros, mas frutos doces que ajudam a colorir a nossa existência junto dos demais de quem também queremos cuidar.
Carlos Vinhal Silva