A tendência que apresentamos de julgar de forma precipitada tudo aquilo que diante de nós se revela constitui um elemento inegável da cultura humana. Independentemente dos agrupamentos humanos a que pertençamos e das características socioculturais que mais se adequam a nós, inequivocamente existe na nossa mente um interruptor que se liga e faz julgamentos sobre tudo e sobre todos sem conhecer sequer partes ou circunstâncias daquilo sobre o que fazemos incidir as nossas avaliações altamente facciosas.
Porém, talvez efeito de um possível carma ou consequência de uma lei do retorno, também nós somos julgados sob as mesmas lentas iníquas que utilizamos quando observamos os outros, mesmo que não tenhamos noção disso. Atribuem-nos características de personalidade sem nos conhecer, adjetivam-nos com termos inadequados, insultam-nos sem propósito, modificam-nos até o espírito e as intenções apenas para conseguir encontrar sentido no que pensam e na realidade, mesmo que a verdade seja deturpada.
Ora, com estas dissertação não pretendemos que se acabem as avaliações: os preconceitos, embora negativos, são essenciais no quotidiano. Apenas se pretende alertar para a demonização do outro que não pensa como nós ou não atua como nós queremos que atuassem: Entre o preto e o branco existem várias modalidades de cinzento nas quais podemos atuar, acertando algumas vezes, errando outras, sempre de acordo com a natureza humana. E não nos esqueçamos que, assim como julgamos os outros, também nós somos julgados pelos outros, porque, como diz Júlio Dinis, “quem quer ser juiz a ninguém deve excluir da possibilidade de ser réu”, mesmo sob pena de nos julgarmos a nós mesmos.