Opinião por Fátima Flores: A Água, esse bem tão precioso

O aumento da população e a dificuldade e onerosidade em se fazer chegar água potável a todos os que dela precisam, fazem com que tenhamos a obrigação de gerir o seu consumo com parcimónia e cuidado. A população de Anadia viu-se recentemente confrontada com o problema da qualidade da água da rede pública de abastecimento.

Se durante anos fomos assistindo a uma situação pouco desejável em termos de desaproveitamento deste bem de valor inestimável, sendo que, em finais de 2019, Anadia estava entre os municípios que mais água desperdiçavam diariamente, com cerca de 466 litros por dia (aproximadamente 2,40 milhões de m3 por ano) e com cerca de 66% da água fornecida não faturada, a qualidade da mesma foi-se mantendo, segundo dados da ERSAR, na ordem dos 98,64%.

A partir de 2020 assistimos a um maior (efetivo) investimento em medidas que procuram mitigar o desperdício de água (nomeadamente em soluções que reduzam as fugas ou ruturas). E embora os resultados desse investimento não apareçam ainda refletidos nos indicadores revelados pela ERSAR (que reportam ao ano de 2020 e que até apontam para um ligeiro aumento da percentagem de água não faturada), estamos convictos que veremos alterados significativamente, e para melhor, os dados relativamente aos anos de 2021 e 2022, Tudo dependerá da realização efetiva do valor previsto investir nesses anos nesta área, com especial referência para o plano de controlo e redução de perdas, e para as remodelações das redes de água.

Quanto à água não faturada seria interessante procurar as razões que levam a essa situação. Se o problema é essencialmente a água utilizada para regas de espaços relvados e jardins há medidas (simples) que poderão ser implementadas ou reforçadas com o intuito de reduzir ou aproveitar melhor o consumo de água, nomeadamente diminuindo, sempre que possível os espaços relvados e optando por regas a horas de menos calor, como por exemplo durante a noite.

Nem sempre as opções da Câmara Municipal indicam esse caminho. É o caso das zonas relvadas ao longo das estradas (como se vê na Avenida 25 de Abril), da situação de declive (que propicia o escoamento rápido da água) escolhido para o Parque Verde ou da opção por prado verde e prado verde florido na reabilitação em curso do Monte Crasto.

Se o problema é o fornecimento gratuito de água, há medidas que podem potenciar a redução do consumo da mesma, nomeadamente uma nova consciência face à gestão desse bem comum. Se o problema é mesmo o não pagamento de faturas e uso abusivo da água da rede pública, terão que ser encontrados os prevaricadores e fazê-los arcar com as devidas consequências.

Para além do problema ambiental e económico, que já vêm de longe, e que constaram de algumas das interpelações ao executivo, enfrentamos hoje uma questão de saúde pública, resultante da qualidade da água que consumimos. De igual forma, o aumento do número de análises à água constou das propostas apresentadas pelo representante eleito da CDU na Assembleia Municipal. Um assunto, na minha opinião preocupante, pouco e mal esclarecido, e que, pelos comentários a que acedo diariamente não está ainda resolvido.

A título de exemplo, a análise com a referência de amostra 2225722 e referência de colheita 2228723 datada de 25/08 e relativamente ao Monte Crasto, mostra a existência de Clostridium perfringens (um bacilo Gram positivo, anaeróbio, resistente à depuração natural da água, indicador de uma poluição hídrica de origem fecal devido aos longos períodos de permanência da água em órgãos do sistema de armazenamento e distribuição) no valor de 52 (para um limite legal de 0) o que me faz questionar a informação apresentada no facebook a 29 de Agosto de que “os resultados das últimas análises à água da rede de abastecimento público do concelho de Anadia, efetuadas na sexta-feira (26 de agosto), indicam que todos os parâmetros avaliados estão próximos dos valores de referência”. Mais ainda porque na análise seguinte afixada na página da autarquia datada de 01/09 (referência de amostra 2226473 e referência de colheita 9442) esse valor ainda não está dentro dos parâmetros legais.

Em todo este assunto faltou, na minha opinião, uma informação clara, concisa e correta do que se passou/passa com a água da nossa rede pública de abastecimento que restaure a confiança da população neste serviço. A regra adotada de se apagarem (eventualmente sem resposta privada) as questões colocadas pelos munícipes na página do facebook do município também ajuda a alimentar esta sensação generalizada de que a nossa opinião não interessa para nada.

Os problemas surgem em qualquer altura mas aceitam-se melhor quando sentimos que, devidamente informados, estamos conscientes do que se passa e podemos eventualmente fazer parte da solução.

Fátima Flores, militante do PEV, eleita na Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Arcos e Mogofores

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