Os grupos do PSD, PS e o deputado único da CDU em Anadia convocaram uma sessão de assembleia extraordinária com o intuito de pedir explicações e perceber quais as estratégias a adotar pela autarquia face aos últimos problemas com a água canalizada e desperdício da mesma.
A iniciar a sessão, da passada segunda-feira, Teresa Cardoso, presidente da Câmara Municipal de Anadia, começou por afirmar saber que é uma questão que merece todos os cuidados e zelo. Segundo a própria, Anadia tem várias zonas de abastecimento e a que abrange a cidade de Anadia tem quatro sítios distintos de captação de água, que depois é encaminhada para três reservatórios de água à volta de Anadia e, por conseguinte, abastece várias localidades limítrofes.
O problema surgiu na captação da fonte de Azenha que, por sua vez, encaminha a água para o depósito no Monte Crasto e distribui para vários locais. Ao longo dos anos o furo de água foi descendo e cada vez as captações são mais profundas. Não chovendo, o nível de água fica comprometido.
“Durante o mês de agosto houve um consumo anormal e excessivo de água, somando ao facto de estarmos em seca. Ou seja, os níveis de água não vão sendo repostos. Estavam criadas as condições para alguns microorganismos proliferarem”, explicou a autarca, referindo ainda que as análises à água são feitas regularmente.
A autarca explica que haviam dois cenários em cima da mesa: ou havia este alerta de não consumo ou o abastecimento de água às populações teria que ser restringido ou suspenso. Foi a 23 de agosto que o primeiro comunicado saiu apesar de, afiançam, por esta altura, já terem a situação praticamente controlada.
“O alarme, quando o comunicado saiu, foi grande, apesar de ter sido apenas uma parte da população a sentir o problema. No dia 25 de agosto repetimos as análises em vários pontos do concelho e onde havia relatos por parte da população. Havia um parâmetro que ainda não cumpria e, por isso, decidimos manter o alerta”, disse a autarca.
Teresa Cardoso explicou que no fim de semana seguinte o consumo de água foi ainda maior, o que levou a reservatórios com ainda menos água. Aqui encontraram ainda outro problema: a alteração de cor e turvação da água, isto porque o elevado nível de hipoclorito de sódio havia provocado outros problemas na rede.
“À data de hoje está tudo praticamente resolvido e vamos continuar a fazer o que for necessário. A 30 de agosto repetimos novas análises, bem como a 01 e 05 de setembro e, após isto, comunicamos à população que a água estava boa para consumo”, concluiu a edil.
Presente na reunião esteve também Graça Gonçalves, delegada de saúde pública do concelho, que explicou que a função da entidade de saúde é a de vigilância e não de controlo: “Quando há incumprimentos fazemos a gestão de risco para a população e damos o aconselhamento devido”, afirmando que não houve, comprovadamente, nenhum caso de problemas de saúde diretamente relacionados com este problema.
“O facto de a água ter uma cor diferente não quer dizer, por si só, que represente algum problema para a saúde”, alertando para o risco dos fontanários públicos de água, dado que a maior parte não tem análises regulares e a pela falta de placas identificativas desta mesma informação (muitas vezes por vandalismo), deixando a ressalva que a gestão desta água é responsabilidade das respetivas Juntas de Freguesia.
Luis Fonte, da bancada do PSD, entendeu que a comunicação feita pela autarquia às pessoas foi feita tarde demais e pouco difundida. Fernando Barbosa, deputado do PS, reforçou a preocupação da população pela situação e concordou com a falha de comunicação da autarquia. Por sua vez, o deputado pela CDU, Rui Bastos, referiu também a falta de comunicação e criticou o facto de, desde 05 de setembro, não ter havido mais nenhuma informação por parte da Câmara.
O segundo ponto da ordem de trabalhos desta sessão remetia para as estratégias a adotar pela autarquia para que, situações como esta ou idênticas, não se voltassem a repetir. Teresa Cardoso começou por explicar a razão para a discrepância entre a água gasta e a água faturada, dando a nota de que toda a água usada pela autarquia ou pelas infraestruturas municipais não é paga pela Câmara, logo, no que toca a relatórios, é dada como perdida.
“Toda a água que não é paga é dada como perda. Aqui admito que temos falhado, em explicar isto à população. Tem que haver uma maior sensibilização da população para a temática da água. Temos que fazer escolhas: para termos tarifas mais baixas, vamos tendo sempre alguns contratempos. É o preço a pagar por não termos uma água privatizada”, disse.
A autarca enumerou os diversos investimentos feitos pela autarquia desde 2016: cerca de 7 milhões de euros, entre rede, ramais, depósitos de água, furos e sistemas de aferição de qualidade. Além disto, em custos operacionais da rede e pessoal foram gastos mais de 5 milhões de euros. Intervencionaram ramais e reformularam mais de 59 quilómetros de rede.
Em resposta, João Gaspar, deputado pelo PSD, defendeu a criação de uma estratégia a médio/longo para as renovações e investimentos na rede. Marcelino Rasga, do PS, apresentou propostas ao Município de melhoramentos. Rui Bastos, da CDU, quis saber se a estratégia de melhoramentos na rede será semelhante à adotada nos últimos anos.
Teresa Cardoso respondeu explicando que o plano de controlo de perdas ficará operacional ainda este ano, mas que isto não se irá refletir no próximo relatório da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos), pois este refletirá os números de 2021.
“Com certeza que os próximos dados serão melhores que os anteriores. Já fizemos além do que aquilo que nos era pedido. Apesar de a água ser um bem essencial, não nos podemos nunca esquecer da sustentabilidade dos sistemas e, todos os anos, recebemos recomendações para aumentar as nossas tarifas, apesar de não as acatarmos na totalidade. A meta que eu gostaria de ter, obviamente, era a do desperdício zero”, explicou.
Fernando Barbosa, da bancada do PS, sugeriu ainda que fosse feito, ainda que apenas internamente, um relatório das perdas reais de água, subtraindo aquilo que os contadores assinalam nos edifícios municipais. Questionou, ainda, a existência de fibroamianto nas condutas da água. Teresa Cardoso admitiu que a autarquia tem falhado neste ponto, o de auscultar a água que eles próprio gastam e que esta comunicação tem que ser melhorada.
Luis Fonte, do PSD, levantou ainda a questão sobre a possibilidade de haver contaminação das águas com saneamento ou descargas ilegais. Teresa Cardoso não colocou de parte esta possibilidade, afirmando que, tanto a Câmara Municipal, como o serviço SEPNA da GNR, tentam estar sempre em cima do acontecimento e aplicando coimas sempre que for o caso.
Manuel Pinho, presidente da Assembleia, reconheceu a importância do tema, mas deixou claro que, na sua opinião, havia um empolamento da situação e deixou o alerta a todos, para que possam ajudar a mitigar esta questão, deixando também a ressalva de que poderá, nesta situação haver lugar a aproveitamento político. Teresa Cardoso já havia insinuado isto mesmo, que este pedido de assembleia teve intenção política.