Nos anais da história e da literatura, a coragem é considerada um farol da força e resistência humanas. Das epopeias antigas a narrações contemporâneas, exaltamos as virtudes da coragem diante das dificuldades. No entanto, ao adentrarmos nas complexidades da coragem em si, descobrimos verdades simultaneamente solenes e hipócritas: em primeiro lugar, é fácil pregar coragem quando não estamos em perigo; em segundo lugar, é nessas circunstâncias em que, frequentemente, mais a aconselhamos.
Convém compreender que a coragem, na sua forma mais pura e radical, não é apenas um conceito a ser elevado e exaltado desde um lugar de conforto e despreocupação, mas antes uma virtude a ser testada e demonstrada na forja do perigo e do próprio risco. Porque, com frequência, deparamo-nos com quem apregoa a bravura sem nunca enfrentar o verdadeiro espetro do perigo, permanecendo atrás de escrivaninhas, púlpitos ou tribunas, abrigados das tempestades da incerteza e do mundo quando a verdadeira coragem, aquela que nasce não de palavras, mas de ações, é forjada pelo bombeiro que avança em direção ao fogo ou pelo soldado que permanece firme no campo de batalha.
Portanto, da próxima vez que ouvirmos alguém a exaltar as virtudes da coragem, é melhor atentar às palavras que são ditas e notar se estão respaldadas por uma experiência genuína ou se constituem apenas uma fachada bonita que procura ocultar uma cobardia profunda. É fundamental que assim seja, sob pena de não conseguirmos honrar aqueles que verdadeiramente trilharam o caminho do perigo e emergiram com a sua coragem intacta, lembrando que o verdadeiro teste de coragem não está na pregação, mas na sua própria vivência.
por Carlos Vinhal Silva