A liberdade, essa palavra que ressoa com tanto apelo nas nossas mentes, é muitas vezes percebida como um horizonte aberto e uma vastidão de possibilidades. Vivemos num tempo em que o direito à liberdade individual é celebrado como um dos pilares fundamentais da nossa existência, mas há um aspeto inseparável desta noção que tende a ser esquecido ou negligenciado: a responsabilidade. A verdadeira liberdade não existe num vácuo de total ausência de limites, mas antes num espaço de ação consciente onde cada escolha carrega consigo um peso. E é precisamente nesse ponto que existe um paradoxo: ser livre implica estar permanentemente vinculado a algo maior, a responsabilidade.
Há uma ilusão comum de que ser livre significa poder fazer tudo aquilo que desejamos, sem restrições ou amarras. Mas esta ideia, por mais sedutora que seja, acaba por nos afastar da essência profunda da liberdade: a liberdade não é uma ausência de limites, mas sim a capacidade de agir com plena consciência das consequências dos nossos atos. Ser livre é, na sua forma mais elevada, estar disposto a aceitar o impacto das nossas escolhas no mundo, nos outros e em nós mesmos. É neste sentido que a responsabilidade emerge como o reverso indissociável da liberdade: sem responsabilidade, a liberdade dissolve-se no capricho, perde a sua substância e transforma-se numa sombra de si mesma.
A liberdade autêntica e, portanto, uma liberdade consciente e deliberada; é uma liberdade que se abre ao futuro, mas que o faz de forma ponderada, refletida e assumida. Não é possível falar de liberdade sem falar, ao mesmo tempo, da capacidade de responder (e aqui entra a etimologia da palavra responsabilidade): responder aos outros, responder ao mundo, responder, sobretudo a nós mesmos. O que fazemos com a nossa liberdade? Para onde a dirigimos? Que tipo de seres humanos nos tornamos através das nossas escolhas? Estas são questões inevitáveis se quisermos pensar a liberdade em toda a sua plenitude. Assim, a tentação de ver a liberdade apenas como um direito ou um privilégio inquestionável é grande, mas incompleta, porque não há liberdade que não seja simultaneamente um dever. Um dever para com a nossa própria humanidade e para com a humanidade dos outros. Na ausência de responsabilidade, a liberdade degenera em arbitrariedade, em descompromisso, em desrespeito pelo outro e pelo mundo.
Portanto, a responsabilidade não é o inimigo da liberdade: é o seu companheiro inseparável e fiel. Sem responsabilidade, a liberdade é vazia porque está desprovida de significado real. É fundamental que, enquanto seres livres, aceitemos essa responsabilidade que é, em última análise, aceitar a condição humana em toda a sua complexidade, uma condição que, embora marcada pela incerteza, pela falibilidade e pela finitude, se enriquece e se aprofunda através da consciência de ser livre implica sempre ser responsável.
– por Carlos Vinhal Silva