Opinião por Carlos Vinhal Silva: A Humanidade em duas categorias

Cruzamo-nos no mundo e na vida com um incontável número de pessoas. Não chegamos a conhecer sequer uma ínfima minoria delas e, dentro dessa minoria, não aprendemos mais que um nome e uma outra qualquer informação irrelevante que não permite alcançar a sua essência. E, no entanto, com base no pouco que conhecemos de cada indivíduo que connosco partilha a existência, conseguimos categorizá-los, ora erroneamente ora acertadamente, em pequenos grupos que têm o intuito de facilitar a memorização dos nossos pensamentos e impressões sobre essas pessoas. Ora, apesar de nem sempre ser correto e justo fazer este tipo de atribuições categóricas, iremos, ainda assim, fazê-lo na presente reflexão, baseando-nos numa categoria muito precisa e específica: a perceção que cada um tem de si mesmo e do seu valor.

Neste sentido, e estabelecendo a primeira categoria, há quem queira ser mais do que na verdade é. E, por ter esta falsa ideia de si mesmo, considera-se digno de adulações e elogios, elevando-se sobre os demais seres humanos. Há quem deseje cerimónias públicas de reconhecimento e homenagem e se apresente como um profeta da época contemporânea que apregoa falsas virtudes e uma ideia de moralidade que é, no mínimo, questionável. As pessoas que se inserem nesta categoria, contrariamente às afirmações que frequentemente fazem quando sabem que estão a ser escutados, pretendem apenas gozar de uma posição social que não merecem e que não atingiram, seja por não a terem alcançado efetivamente ou por esta sua pretensão estar alicerçada em falsos méritos, usando a mentira para adquirir um estatuto que tem que ser atribuído por outrem.

PUBMas há também o seu oposto: aqueles que simplesmente são aquilo que são. Sem complexos ou exigências bacocas e fúteis; sem falsas pretensões e sem quaisquer intenções de exacerbar o seu próprio valor, chegando mesmo ao ponto de, por vezes, o subestimar. Mesmo tendo muitos méritos reconhecidos e reconhecíveis, palpáveis e tangíveis, talentos notáveis e qualidades admiráveis, não demandam que os outros os vejam como querem ser vistos, procurando a modéstia e a humildade, não sabendo reagir de forma adequada aos elogios que lhes são tecidos e às graças que lhes são dirigidas, julgando-se indignos de um tratamento que, na essência, os diferencie dos seus semelhantes de carne, osso e espírito. Sabem-se humanos, talvez demasiado humanos, para alguma vez aspirarem qualquer condição que não esta e, mesmo sendo capazes de a imaginar, não querem ser mais nada até ao seu último suspiro.

Assim, ao refletirmos sobre estas duas categorias e as pessoas que elas contêm percebemos que a perceção de si mesmo e do próprio valor desempenha um papel crucial na forma como nos relacionamos com o mundo. A primeira categoria, marcada pela vaidade e pela arrogância, não revela mais que uma inquietude interior e uma necessidade constante de validação, mesmo que não seja merecida; a segunda categoria, pela sua vez, caracteriza-se pela humildade e demonstra uma compreensão mais profunda da sua própria essência. Deste modo, apenas podemos concluir o seguinte: a verdadeira sabedoria reside na capacidade de reconhecer as nossas próprias virtudes e limitações sem ceder à tentação de nos elevarmos artificialmente.

 

– por Carlos Vinhal Silva

SUBSCREVA JÁ

NEWSLETTER

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Aceito Ler mais