Em todas as conversas, mais politizadas ou menos, de cariz mais formal ou informal, existem pontos que requerem esclarecimentos adicionais ou o aprofundamento de determinadas matérias com o intuito de as tornar mais compreensíveis. Ora, a crítica é uma ferramenta de que dispomos para concretizar esses objetivos, sendo que o seu uso adequado permite, inequivocamente, um melhor entendimento e um enriquecimento do diálogo que encetámos. Acontece que a crítica nem sempre é feita dentro destes termos, sendo, por vezes, utilizada de forma desadequada, quase como uma arma de ataque cerrado sem qualquer outro propósito que não o de menorizar uma posição sem oferecer qualquer alternativa.
Dizemos isto porque, evidentemente, o uso exclusivo da crítica como argumento tem vindo progressivamente a ser mais utilizado nas discussões públicas mais mediatizadas (e isto não é uma crítica à própria crítica, mas ao seu uso exacerbado e despropositado), algo que se reflete aos níveis argumentativo e retórico dos debates a que podemos assistir. E as consequências são evidentes: o discurso público é menos produtivo, aumentam os impasses e diminuem os acordos, não sendo possível encontrar soluções e ideias positivas que permitam o desenvolvimento do diálogo. Pior ainda, é que os jovens ficam com a perceção que é assim que as discussões e dos debates devem ser feitos, o que, a longo prazo, terá efeitos ainda mais gravosos, na medida em que os níveis argumentativo e retórico serão ainda piores do que hoje.
Se nada mudar nesse tipo de discursos, e deve mudar para ser mais construtivo e benéfico para todos, a crítica tornar-se-á vazia, oca, sem sentido. Ninguém prestará atenção ao que for dito porque é um discurso que pouco acrescenta à vida e que, passado algum tempo, cansará todos os que o escutem. E tudo ficará na mesma, sem qualquer mudança e sem qualquer esperança, porque as vozes muito contundentes na hora de gritar e criticar são também as vozes que mais se calam no momento de agir.
Carlos Vinhal Silva