A linguagem, dom singular dos homens, erige pontes entre o pensamento e a realidade, entre o saber e a transmissão desse saber. No entanto, como tudo o que é nobre, ela também se corrompe: transforma-se em ruído quando se despe de fundamento, em charlatanismo quando se afasta do conhecimento. Falar sem saber é construir uma casa sobre areia movediça; é dar forma ao vazio e vesti-lo de sentido ilusório.
O verdadeiro sábio, ciente dos limites da sua compreensão, sabe calar-se quando o silêncio é mais digno do que a palavra. Não se apressa a pronunciar juízos sobre aquilo que não lhe foi dado entender, nem confunde opinião com verdade. Pelo contrário, o ignorante (que muitas vezes se supõe esclarecido) fala sobre tudo, convencido de que o som da sua voz é prova de inteligência. Mas há mais filosofia num silêncio prudente do que em mil discursos vazios.


Vivemos tempos de opinião abundante e reflexão escassa, em que todos julgam ter algo a dizer sobre tudo. A era moderna não se limitou a impor o império do rumor e da tagarelice, mas conferiu-lhes um estatuto de autoridade. O espaço público enche-se de vozes que disputam a atenção, não para esclarecer, mas para vencer pelo volume, para subjugar pela insistência. E assim, o que deveria ser um diálogo torna-se um pandemónio, onde quem mais grita é quem prevalece.
Se há um dever que o pensamento nos impõe, é este: resistir à tentação do discurso infundado, cultivar a modéstia do silêncio quando o saber nos falta. Porque falar sem conhecimento não é iluminar o mundo, mas sim obscurecê-lo com a sombra da nossa própria ignorância.
por Carlos Vinhal Silva
 
 
			        
