Opinião pela CDU Anadia: A propósito das comemorações do 25 de Novembro

A cerimónia, com proposta do CDS e os votos favoráveis do PSD, Chega e Iniciativa Liberal, teve lugar na assembleia da República aquando dos 49 anos deste acontecimento e no ano em que o país, com várias iniciativas, comemora os 50 anos do 25 de Abril.

Nada acontece por acaso e há muito que os portugueses deixaram de ser os ingénuos que elogiavam Salazar que, em plena guerra colonial, que ceifou a vida de milhares de jovens, prometeu (e cumpriu) que nos livraria da guerra (39/45) mas não da fome.

Tinha 28 anos em Novembro de 1976 e, como qualquer jovem politizada da altura, não fui indiferente a essa data que, fora os círculos mais envolvidos na política, e na esfera militar, pouco se fez sentir no nosso país, a braços com graves problemas sociais e uma violência que grassava com especial incidência no centro e norte do país.

Durante o verão quente pós 25 de Abril de 75, os confrontos entre ideologias diferentes, que agora se podiam exprimir livremente, resultou em ações violentas de que são exemplo os (quase 100) ataques às sedes dos partidos políticos de esquerda (MDP-CDE, UDP e PCP).

Interessante lembrar que muitos desses ataques foram perpetrados por militantes de dois movimentos de direita ELP e MDLP, sendo que este último tem hoje um membro como deputado eleito na Assembleia da República. Talvez, para o ano, o 11 de Março possa ser festejado já que a derrota das forças políticas que o executaram permitiu que o 25 de Abril seguisse o seu rumo.

Mas se o 25 de Abril, não passou ao lado dos portugueses, o mesmo se pode dizer do 25 de Novembro que pouco impacto teve na sociedade da época. Diz-se que… era o que mais se ouvia, então.

As minhas (poucas) memórias desse dia reacenderam-se quando seguia atentamente os debates televisivos que antecederam as cerimónias parlamentares. Revi-me nas explicações de Pacheco Pereira e Manuel Loft e estranhei (embora encontrasse justificação) as de Paulo Núncio, a título de exemplo. Não quero aqui referir os disparates que ouvi da boca de alguns comentadeiros e comentadeiras com tempo de antena na nossa Comunicação social. Não merecem o meu tempo.

E a este propósito lembrei-me que o livro Os Filhos do Zip Zip (relatos de um Portugal dos anos 70) da jornalista Helena Matos tem, na página 68, uma notícia de um acidente de automóvel e pormenores mais ou menos insólitos do que se passou. O acidente foi comigo. Eu sou a lá referida “ mulher do condutor”. Mas aquilo não foi o que realmente vivi. O tempo coou a verdade dos factos e a visão da autora interferiu com a realidade.

Assim acho que aconteceu com o 25 de Novembro de 1976 que se evocou de forma a servir interesses partidários e não com o distanciamento de um facto histórico de relativa importância política para o país de então.

 

Fátima Flores, militante do PEV, eleita na Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Arcos e Mogofores

SUBSCREVA JÁ

NEWSLETTER

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Aceito Ler mais