O homem moderno, perdido no labirinto das suas incertezas, procura na palavra escrita um farol que ilumine a sua jornada. Agarra-se às máximas brilhantes dos livros como um náufrago que se aferra a tábuas soltas no oceano. Acredita que nas páginas dos grandes autores encontrará a chave para os seus dilemas, o remédio para as suas angústias, a solução para a vida.
Mas a vida não se deixa domesticar por frases bem escritas. A vida é caos, carne e tempo: e não há sentença, por mais engenhosa ou elegante, que possa resolver-lhe os dilemas. Nenhuma máxima, por mais admirável, poderá substituir a experiência, o erro, a dor. O pensamento não se confunde com a existência, e a mais bela teoria desfaz-se no primeiro embate com a realidade.
Que grande engano! Nenhum aforismo pode ensinar o que só a vida ensina. Nenhum verso pode salvar aquele que precisa de agir. Nenhum pensamento, por mais brilhante, pode impedir a queda de quem se recusa a caminhar.
Que se leia, pois, com prazer e reflexão. Mas que não se espere que a literatura nos resolva a vida. Porque viver é um ofício que nenhuma frase pode exercer por nós.
por Carlos Vinhal Silva