Opinião por Carlos Vinhal Silva: A política dos Homens fracos

Costuma-se dizer, talvez por determinadas influências cinematográficas ou literárias, que para se averiguar o verdadeiro caráter de um Homem basta conceder-lhe poder. Partindo do princípio que esta aceção está correta (e não estamos a afirmar a sua veracidade nem a negá-la: limitamo-nos a estabelecê-la como princípio do argumento com que nos entretemos), temos que questionar qual seria o método mais fácil para alcançar o tão almejado poder. E a resposta que mais imediatamente se afigura é o dinheiro, mas bem sabemos o valor volátil da economia num mundo instável (ainda que a sua importância nunca chegue a ser meramente residual, não pensamos que seja o dinheiro a principal fonte de poder); portanto, e se a resposta instantânea que emerge ao pensamento não é satisfatória, talvez devamos demorar-nos mais nesta reflexão como forma de concluir que a forma mais estável de poder é o poder político, precisamente porque este, dentro das suas limitações naturais, é capaz de criar a estabilidade ou instabilidade necessárias para a sua manutenção ou derrocada.

De facto, se pensarmos na obra “A queda de um anjo” de Camilo Castelo Branco, aperceber-nos-emos que o verdadeiro caráter do protagonista Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda se revelou não por conta do dinheiro, mas por conta do poder político que recebeu quando foi eleito deputado e se mudou para Lisboa para exercer o seu mandato. Não foi o dinheiro que o transformou: foi a política que o corrompeu (bem como a devassidão e o luxo associado às grandes cidades); foi a política que permitiu que um homem íntegro, justo e defensor dos bons costumes padecesse dos males contra os quais lutava. E, infelizmente, transportando o mundo narrativo da história para a realidade, é também isso que acontece a uma grande parte daqueles que ingressam na política sem terem a competência ou a firmeza de valores necessários para se manterem fiéis às suas crenças e preceitos morais originários, aqueles que herdámos dos nossos pais e Avós e pelos quais fomos educados. Ainda que todos pensemos ter a força suficiente para contrariar a violência da política, poucos são aqueles verdadeiramente capazes de subsistir praticamente sem mácula desta luta que tende a destruir o espírito fraterno que afirmávamos possuir aquando da eleição.

Como diz Júlio Dinis em “A Morgadinha dos Canaviais”, “os políticos, em abstrato, (são) os únicos para quem a política é sempre ideal e lógica”. Mas não é: porque a lógica da política ideal é o serviço da polis, da cidade, da comunidade, da nação; mas ela tende a ser invertida para que os políticos se possam servir da política para se beneficiar a si mesmos ou quem lhes oferece benefícios (e aqui pode entrar, novamente, a problemática do dinheiro). A política é um dos principais corruptores do espírito humano: por ela recorre-se à crueldade, sacrificam-se indivíduos capazes e competentes, despreza-se e destrói-se a consciência, porque ela justifica tudo até não sobrar mais nada.

 

Carlos Vinhal Silva

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