Costuma-se dizer, talvez por determinadas influências cinematográficas ou literárias, que para se averiguar o verdadeiro caráter de um Homem basta conceder-lhe poder. Partindo do princípio que esta aceção está correta (e não estamos a afirmar a sua veracidade nem a negá-la: limitamo-nos a estabelecê-la como princípio do argumento com que nos entretemos), temos que questionar qual seria o método mais fácil para alcançar o tão almejado poder. E a resposta que mais imediatamente se afigura é o dinheiro, mas bem sabemos o valor volátil da economia num mundo instável (ainda que a sua importância nunca chegue a ser meramente residual, não pensamos que seja o dinheiro a principal fonte de poder); portanto, e se a resposta instantânea que emerge ao pensamento não é satisfatória, talvez devamos demorar-nos mais nesta reflexão como forma de concluir que a forma mais estável de poder é o poder político, precisamente porque este, dentro das suas limitações naturais, é capaz de criar a estabilidade ou instabilidade necessárias para a sua manutenção ou derrocada.
Como diz Júlio Dinis em “A Morgadinha dos Canaviais”, “os políticos, em abstrato, (são) os únicos para quem a política é sempre ideal e lógica”. Mas não é: porque a lógica da política ideal é o serviço da polis, da cidade, da comunidade, da nação; mas ela tende a ser invertida para que os políticos se possam servir da política para se beneficiar a si mesmos ou quem lhes oferece benefícios (e aqui pode entrar, novamente, a problemática do dinheiro). A política é um dos principais corruptores do espírito humano: por ela recorre-se à crueldade, sacrificam-se indivíduos capazes e competentes, despreza-se e destrói-se a consciência, porque ela justifica tudo até não sobrar mais nada.
Carlos Vinhal Silva