Imaginemos, por um momento, uma sociedade que se estrutura em torno de um princípio tão antigo quanto a própria humanidade: o amor. Não se trata do amor romântico, exclusivo, muitas vezes fugaz, mas de um amor essencial, que se manifesta na compaixão pelo outro, no respeito pela dignidade humana ou na solidariedade que transcende interesses pessoais. Fazer deste amor o fundamento de uma sociedade não é uma utopia ingénua, mas trata-se, pelo contrário, de uma visão profundamente necessária para superar as divisões e as desigualdades que nos assolam. O amor, enquanto alicerce social, transcende o domínio do sentimento e transforma-se numa força moral e ética, pelo que uma sociedade fundamentada neste princípio se enraíza na compreensão de que todos partilhamos uma condição comum e, por extensão, pertencemos à mesma teia frágil da existência. Neste contexto, o amor traduz-se em justiça, em respeito pela diferença, em políticas que reconhecem a vulnerabilidade de cada um e de todos; é uma forma de viver e governar que desafia o individualismo feroz e o consumismo cego que, muitas vezes, reduzem o ser humano a uma peça numa engrenagem económica.
Que sociedade seríamos se nos permitíssemos este projeto radical? Certamente, uma sociedade onde a verdadeira liberdade e a verdadeira justiça se tornariam possíveis, porque o amor, enquanto princípio fundador, liberta-nos do medo, desarma a agressividade, dissolve a desconfiança. Num mundo em que o amor fosse o eixo central, não haveria espaço para a indiferença; haveria antes um compromisso sincero com a justiça, com a dignidade e com a paz. Assim, talvez o maior desafio do nosso tempo não seja tanto uma questão técnica ou económica, mas uma questão ética. Contudo, será que estamos prontos para este amor coletivo? Se sim, então a sociedade que desejamos construir não é apenas um ideal distante, mas uma possibilidade que está ao nosso alcance se tivermos a vontade de fazer do amor uma escolha consciente, um caminho de vida, um fundamento inabalável.
por Carlos Vinhal Silva