A APPACDM de Anadia tem como atividade específica educar, formar e reabilitar a pessoa com deficiência ou incapacidade potenciando a sua valorização, integração e autonomia nos contextos familiar, social e profissional. Mas, sabemos, no que toca ao amor, a dedicação é ainda maior.
O amor e a sexualidade na pessoa com deficiência continua a ser na sociedade um tema tabu. O namoro, apesar de aceite, é muitas vezes ainda visto com a infantilidade que não tem, ou não deveria ter. Não só a sociedade mas também os pais e família que acompanham a pessoa com deficiência encaram o namoro dos seus entes queridos como um namoro de jardim de infância e não atribuem a importância que estas pessoas precisam que tenha.
“Para nós isto não são temas tabu. São temas que são abordados. A educação sexual é falada. Estas mulheres são acompanhadas em consultas médicas específicas. Precisamos que a sociedade e as famílias encarem este assunto como outro qualquer, com a naturalidade que ele exige”, explica-nos Rita Silva, Psicóloga do CACI da APPACDM de Anadia.
Os profissionais da instituição têm noção das condicionantes e entraves dos seus clientes e por isso explicar que a sexualidade tem um espaço certo para acontecer é um primeiro passo e é por aqui que procuram muitas vezes começar o seu trabalho.
“Neste contexto surgem muitas histórias de amor. Há casais que estão juntos há muitos anos, que sentem saudades, que se gostam, têm carinho e, claro, também se chateiam. Não é o mais comum, porque muitas vezes as relações são muito superficiais, mas acontece”, explica-nos. Rita diz-nos ainda que não só há relações entre clientes da instituição como entre clientes e outras pessoas que não frequentam a instituição.
O facto de terem muitas vezes dificuldades na comunicação faz com que tenham mais dificuldade em resolver chatices e zangas que acontecem no dia-a-dia, como em qualquer casal. Mas, de alguma forma, a linguagem do amor é universal.
O mais difícil de tudo é encontrar um equilíbrio entre aquilo que os entendem ser o melhor para os seus filhos e respeitar as suas vontades e aqui os namoros sofrem bastante. Há familiares que desincentivam estes relacionamentos, por medo de saírem magoados, apesar de muitas vezes eles quererem.
“A sexualidade é algo natural e que faz parte da vida. É melhor falarmos e aconselharmos sobre ela do que escondermos e daí resultarem comportamentos que não queremos. As entidades e os profissionais de saúde têm também, cada vez mais, abertura neste assunto”, explica-nos.
Neste dia 14 de fevereiro será preparado um almoço especial e os casais podem fazer a sua refeição juntos, num espaço preparado para o efeito. É sempre um momento muito esperado entre todos e alguns até apressam o início de uma relação por forma a ter este “tratamento diferenciado” neste dia.
“Educamos no sentido de que o namoro é para ser vivido com amor mas sabemos que às vezes têm dificuldade em reconhecer os seus próprios sentimentos. Era importante que os pais se envolvessem mais, se interessassem mais, também para ajudar a perceber que há problemas que são transversais a todos”, diz a psicóloga.
A sair de uma pandemia e sucessivos confinamentos, não têm dúvidas que muitos clientes foram verdadeiramente afetados. Surgiram muitos sintomas de depressão e, apesar de já sentirem que estão a recuperar, sabem que muita coisa se “perdeu” durante longos meses.
“Somos pessoas de apoio. Se damos apoio em tantas coisas, também seremos de apoio em questões sentimentais”, concluímos.
Atualmente a Instituição tem a funcionar dois polos distintos, um em Anadia e outro na Mealhada, desenvolvendo três respostas sociais que consubstanciam os princípios da ética, dos direitos e da abrangência. Falamos de quatro Centros de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), distribuídos pelos dois Polos da Instituição, Sede e Centro de Santo Amaro, que apoiam um total de 95 clientes. Falamos Igualmente de quatro Lares Residenciais (LRE), com um total de 47 camas, estando três Lares Residenciais afetos à sede e um Lar Residencial afeto ao Centro de Santo Amaro. Falamos também do Centro de Formação Profissional (CFP), que forma jovens com incapacidade intelectual, no âmbito do da Qualificação de Pessoas com Deficiência e Incapacidade, Tipologia de Operação T.O 3.0. – PO ISE.