Entrevistámos Diogo Rodrigues, presidente do Moita Rugby Clube da Bairrada, que nos faz um balanço de 50 anos de altos e baixos. Desde uma aldeia que não se consegue dissociar do seu desporto à dificuldade em captar novos atletas, percebemos porque é que o rugby é diferente.
Jornal de Anadia (JA) – O clube celebra agora 50 anos. Como descreveria a sua trajetória ao longo destas cinco décadas?
Diogo Rodrigues (DR) – A trajetória do Moita Rugby Clube Bairrada tem sido marcada pela resiliência, dedicação e espírito de sacrifício. Começámos como um pequeno núcleo de entusiastas, crescemos dentro do GDM e, em 1997, afirmámo-nos como um clube autónomo, representando toda a região da Bairrada. Cada fase da nossa história foi construída com esforço, superação e uma enorme paixão pelo rugby.
JA – Sendo o único clube de rugby sediado numa aldeia, que desafios e vantagens essa localização trouxe ao longo dos anos?
DR – A localização trouxe desafios significativos, como a captação de atletas e a falta de infraestruturas nos primeiros anos. No entanto, também nos deu uma identidade única, um sentido de comunidade muito forte e o apoio incondicional da população local. A Aldeia do Rugby tornou-se um símbolo de resistência e compromisso com a modalidade.
JA – Como nasceu a ideia de fundar um clube de rugby numa aldeia? Tem noção de quais foram as maiores dificuldades iniciais?
DR – A ideia surgiu do entusiasmo de um grupo de jovens que ousou fazer diferente e experimentar um desporto novo na Escola Primária da Moita. As dificuldades iniciais foram muitas, desde a falta de um campo próprio até à escassez de material desportivo. Mas o espírito de união e a determinação dos fundadores permitiram superar esses obstáculos.
JA – Há algum momento ou conquista que considere o mais marcante na história do clube?
DR – São muitos os momentos marcantes, mas a construção do nosso campo relvado em 1998 foi um dos mais simbólicos. Foram anos de luta para conseguir as condições ideais para treinar e competir. Além disso, a participação de atletas nossos na Seleção Nacional é sempre um grande orgulho.
JA – Como tem sido a relação do clube com a comunidade local ao longo dos anos?
DR – Tem sido excelente. A comunidade sempre nos apoiou, desde os tempos mais difíceis até aos momentos de celebração. O clube é um ponto de encontro para muitas famílias e gerações, e procuramos sempre retribuir esse apoio com iniciativas e eventos que envolvam todos.
JA – O clube tem sido um motor de desenvolvimento para a aldeia? De que forma?
DR – Sem dúvida. O clube trouxe visibilidade à aldeia, dinamizou o comércio local e incentivou hábitos saudáveis entre os jovens. Além disso, eventos como torneios e festivais desportivos movimentam a economia local e trazem visitantes à nossa terra.
JA Como se consegue atrair e formar jogadores num contexto rural?
DR – Através de um trabalho constante com as escolas e famílias da região. Temos protocolos com várias instituições de ensino e realizamos ações de sensibilização para captar novos talentos. O ambiente familiar e os valores do rugby também ajudam a cativar os jovens.
JA – Há casos de jogadores que começaram no clube e seguiram para patamares mais elevados do rugby?
DR – Sim, temos vários exemplos de atletas que passaram pelo MRCB e que foram chamados à Seleção Nacional ou ingressaram em equipas de maior projeção. Atletas como Rui Rodrigues, Gonçalo Almeida, Miguel Heleno e também Beatriz Rodrigues, Inês Spínola entre outros que representaram e ainda representam são alguns dos exemplos que fizeram os escalões de formação das Seleções Nacionais e também da Seleção nacional Senior. Isso demonstra a qualidade do nosso trabalho de formação.
DR – Os valores do respeito, companheirismo, disciplina e superação são a base de tudo o que fazemos. Mais do que formar atletas, queremos formar cidadãos exemplares, preparados para os desafios dentro e fora de campo. O rugby ensina a lidar com a vitória e a derrota com humildade, a respeitar colegas, adversários e árbitros. Esses princípios são levados para a vida pessoal e profissional dos nossos atletas.
JA – Como o clube se adaptou às mudanças no rugby português ao longo dos anos?
DR – Acompanhámos sempre a evolução do rugby nacional, ajustando métodos de treino, apostando na formação e reforçando parcerias. O rugby moderno exige mais estrutura e profissionalismo, e temos trabalhado para nos mantermos competitivos. Esse é um dos nossos maiores desafios, face à nossa capacidade de recrutamento mais reduzida comparando com polos maiores, e também das condições disponíveis. Mas fazemos o possível para acompanhar o progresso.
JA – Quais são atualmente os maiores desafios que o clube enfrenta?
DR – O financiamento e a captação de novos atletas são desafios constantes. Precisamos de apoios para manter e melhorar as infraestruturas, contruir um novo ginásio que permita aos atletas estarem melhor preparados para as exigências físicas, assim como continuar a expandir a nossa base de formação.
JA – Como imagina o clube nos próximos 50 anos?
DR – Vejo um clube ainda mais forte, com infraestruturas melhoradas e cada vez mais atletas. No presente, o objetivo passa por reforçar a nossa organização e estrutura, melhorar e expandir a relação com patrocinadores, tornar o clube mais abrangente desportiva e socialmente.
JA – Que mensagem gostaria de deixar aos jogadores, ex-jogadores e adeptos que fazem parte desta história?
DR – A todos os que passaram e passam pelo Moita Rugby Clube Bairrada, um enorme obrigado. O clube é feito das pessoas que o vivem com paixão e dedicação. Continuemos juntos a construir este legado e a honrar os valores do rugby!