Nos começos do mês de agosto surgiram nas redes sociais notícias preocupantes sobre a qualidade da água fornecida pela Câmara Municipal de Anadia aos seus cidadãos. Na esfera pública anadiense circularam notícias que davam conta de um inusitado recurso às urgências por parte de residentes alegadamente causado por complicações derivadas do consumo de água imprópria. Inclusive, muitos de nós vimos como a cor da água se apresentava acastanhada em nossas casas.
Só em 24 de agosto a Câmara Municipal alertou a população através de um comunicado dando conta que a água distribuída às populações de Arcos, Mogofores, Sangalhos, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Moita, Tamengos, Aguim e Óis do Bairro, que constituem no seu conjunto bem mais de metade da população do nosso concelho, estava contaminada por bactérias, recomendando à população que não consumisse a água diretamente, devendo fervê-la e adicionar uma gota de limão para melhorar o seu sabor (sic). Neste comunicado, datado de 24 de agosto a Câmara Municipal também recomendava um consumo mais moderado e responsável da água.
No dia 29 de agosto, em novo comunicado, a Câmara Municipal dava conta que a situação estava a melhorar e sugeria que a situação de seca estava na origem da deficiente qualidade da água.
Finalmente, no dia 5 de setembro, a Câmara Municipal de Anadia, noticiou que a água cumpria todos os requisitos que a tomam como adequada para consumo humano.
Esta situação desagradável merece ser analisada em todas as suas vertentes. Aqui, vamos apenas realçar algumas delas deixando as outras para momento posterior.
Acidentes acontecem. Em algum momento as coisas podem correr mal. O que importa aqui analisar são três coisas: primeiro, se as autoridades fizeram todo o possível para evitar o acidente. Segundo, se depois deste verificado, atuaram rapidamente para resolver o problema e informaram a população para minimizar riscos e consequências. Terceiro, que ações ou medidas concretas as autoridades se propõem tomar para evitar que ocorram novos acidentes no futuro.
Vamos lá por partes.
O PSD e toda a oposição têm levantado repetidamente o problema da requalificação da rede de abastecimento de água, tendo em conta que Anadia era em 2019 o quarto concelho a nível nacional com maiores perdas de água. Todos os anadienses já presenciaram a existência de fugas de água que demoraram meses e até anos a serem reparadas. Em ano de seca extrema como o que vivemos mais urgente e importante se torna investir na requalificação da rede de abastecimento de água. Contudo, a Câmara Municipal tem tido outras prioridades, como sejam, o embelezamento de rotundas (Sangalhos) a colocação de fontes (Curia) ou a construção do Parque Urbano Municipal, obra no qual gastou cerca de 5 milhões de euros e que permanece por concluir. A montante, temos, portanto, um problema de responsabilidade política do MIAP pelas opções políticas que tomou no passado e que teima em manter no momento atual, escudado que está na maioria que o povo anadiense lhe deu nas últimas eleições autárquicas realizadas em outubro de 2021.
Mas o que é mais grave é o comportamento da Câmara Municipal e do MIAP na reação à situação verificada de fornecimento de água imprópria para consumo, comportamento esse passível de responsabilização, quanto mais não seja, política . Em primeiro lugar, a demorou em reagir e esclarecer os anadienses. As primeiras notícias de que algo não estava bem datam do começo de agosto. Todavia, o primeiro comunicado informativo só foi emitido a 24 de agosto. Durante cerca de 20 dias os anadienses viveram no desconhecimento acerca do consumo de um bem essencial à vida, como é a água.
Depois, a própria informação que consta do comunicado é cheia de curvas, não esclarecendo, qual ou quais os fatores que tornaram a água imprópria para consumo. Nele não se faz referência aos valores das análises efetuadas, apena se dava conta que os «…resultados das análises confirmaram a existência de fatores menos positivos na qualidade da água…».
Em suma, a informação prestada pela Câmara Municipal de Anadia foi insuficiente e nada esclarecedora.
Ora, os anadienses mereciam mais. Mereciam uma informação completa, clara e compreensível, sobre o problema da contaminação da água.
O que não foi manifestamente o caso!
Depois do «leite derramado» importa retirar ilações. Uma delas salta à vista. Anadia precisa de um programa de requalificação das redes de abastecimento de água. Outra ilação a retirar pela Câmara Municipal é a de que não deve tratar os cidadãos como crianças, mas como pessoas adultas a quem deve prestar contas pelas suas ações e omissões. Não é (nunca foi) solução esconder os problemas e comunicar por meias palavras. Impõe-se melhorar a transparência da ação política municipal em Anadia.
Por último, importa lembrar que quem exerce cargos políticos eletivos está a prazo. Daqui a trinta e seis meses teremos de novo eleições e a oportunidade de escolher quem nos governa!
João Nogueira de Almeida
Jorge São José
(Vereadores eleitos pelo PSD na Câmara Municipal de Anadia)