Opinião por Carlos Vinhal Silva: Investir em ações de bem

Na vastidão do mundo material, o dinheiro emerge como um ídolo insubstituível para muitos, sendo procurado, acumulado e celebrado como se fosse a chave última para a felicidade e a realização. Contudo, há um engano profundo nesta crença, porque as riquezas materiais, ainda que úteis, não são capazes de abarcar o verdadeiro valor da existência. O bem, pelo contrário, transcende as limitações do ouro e da prata, sendo a única moeda que paga dividendos eternos, mesmo quando o mundo nos abandona.

O dinheiro é finito: é uma abstração criada pelo homem, sujeita aos caprichos do tempo, da economia e da pessoa. Hoje, ele pode servir como meio para o conforto e o luxo; amanhã, pode ser reduzido a cinzas ou a números sem valor numa folha de papel. Já o bem, é infinito: uma ação verdadeiramente boa não termina no momento em que é realizada, ecoando nas vidas que toca, multiplicando, de forma misteriosa, num movimento que transcende gerações.

A prática do bem é, por natureza, imaterial e eterna, tanto que quem estende a mão ao necessitado não ajuda apenas aquele que sofre, mas eleva também a sua própria alma. O bem alimenta o espírito de quem o pratica e de quem o recebe, estabelecendo uma corrente de sentido que nenhuma fortuna pode comprar. Enquanto o dinheiro é possuído e consumido, o bem é partilhado e, paradoxalmente, quanto mais se distribui, maior se torna.

Platão, no seu idealismo, acreditava que o bem era a forma suprema, o fundamento de toda a realidade. Embora possamos discordar de certas nuances da sua teoria filosófica, é difícil negar que o bem possui um valor intrínseco que escapa às métricas humanas: ele é a base de tudo o que nos faz verdadeiramente humanos (a empatia, a compaixão, o desejo de justiça). É a força silenciosa que constrói comunidades, que cria laços entre indivíduos e que dá sentido àquilo que, de outro modo, seria apenas um conjunto de rotinas vazias.

O dinheiro, por outro lado, separa; divide os homens em castas e classes, gera disputas, fomenta o egoísmo e, muitas vezes, torna-se fonte de corrupção e degradação moral. Não é o dinheiro em si que é maligno (seria pueril fazer tal acusação), mas a centralidade que ele ocupa na vida de muitos é, sem dúvida, um sintoma de uma alma empobrecida. Quando tudo se reduz ao cálculo material, perde-se a sensibilidade para aquilo que realmente importa: as relações humanas, a dignidade, o respeito mútuo e a procura pelo bem comum.

O bem, porém, nunca perde o seu valor, mesmo quando é ignorado. É um investimento que não rende juros tangíveis, mas que multiplica a riqueza invisível da alma. Quem faz o bem não o faz para ser reconhecido ou recompensado, mas porque percebe, no ato, uma ordem mais elevada, uma harmonia com o próprio fundamento do ser. O dinheiro compra corpos e gestos, mas o bem conquista corações e mentes.

Assim, ao contemplarmos o que realmente importa, percebemos que o dinheiro é apenas um meio, enquanto o bem é um fim em si mesmo. Ele é a expressão mais pura do que nos faz humanos e do que nos aproxima do divino. E, na eternidade das coisas, enquanto as moedas e os cofres perecem, o bem permanece como a única riqueza que nunca se desgasta, o único tesouro que não pode ser roubado, a única moeda que, quando é partilhada, se multiplica.

 

por Carlos Vinhal Silva

SUBSCREVA JÁ

NEWSLETTER

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Aceito Ler mais