Vivemos tempos em que o discurso político se tornou um espetáculo de retórica vazia. Muitos dos líderes partidários enchem os palcos e as assembleias com grandiosos ideais e promessas de mudança, mas, quando se raspa a superfície dessas palavras, é tudo surpreendentemente escasso. De que serve um ideal sem substância? Assistimos, dia após dia, a políticos que se erguem como bastiões da moralidade ou da justiça, bradando por uma sociedade mais justa, inclusiva ou desenvolvida, mas quando as luzes se apagam e os microfones estão desligados, é notória a falta de um plano concreto ou de um esboço minimamente detalhado sobre como alcançar esses objetivos. O ideal é uma bandeira bonita, mas a política é feita de ação, trabalho árduo, decisões e compromissos.
No fundo, o que acontece é uma tentativa deliberada de mascarar a falta de ideias verdadeiramente inovadoras com palavras sonantes. Estes políticos sabem que o eleitorado, desiludido e frustrado, anseia por uma visão de futuro e, assim, oferecem sonhos grandiosos e esperanças vagas, sem qualquer visão prática que possa ser transformada em políticas viáveis. A verdade, porém, é que este tipo de discurso não passa de entretenimento e torna a política, da direita à esquerda, um mero espetáculo. O grande problema deste fenómeno é que se cria uma barreira entre o político e o cidadão: quem ouve e acredita nos ideais, mas depois vê a falta de ação, sente-se traído. Esta traição repetida gera cinismo, desinteresse e, pior ainda, desconfiança no próprio sistema democrático. Os cidadãos começam a acreditar que todos os políticos são iguais, que nenhuma mudança é possível, que as promessas são apenas palavras; e, assim, esvazia-se a essência da democracia, que deve ser o espaço do debate de ideias e da construção de soluções.
Portanto, da próxima vez que ouvirmos discursos cheios de promessas douradas e visões utópicas, devemos perguntar: Como? De que forma? Com que recursos? Quais são os obstáculos? Sem essas respostas, estamos apenas a ser embalados numa ilusão que, mais cedo ou mais tarde, se dissipará, deixando apenas a frustração e a desilusão. Chegou a hora de exigir menos e mais: de exigir menos retórica e mais ideais; de exigir menos espetáculo e mais trabalho sério. Por os grandes ideais, ainda que de suma importância, só fazem sentido quando apoiados por ideias fortes, inovadoras e, acima de tudo, exequíveis. E disso, muitos dos nossos grandes idealistas políticos ainda estão muito longe.
por Carlos Vinhal Silva