Opinião por Carlos Vinhal Silva: O verdadeiro julgamento do Homem

A reputação é um espelho em que os outros devolvem; é uma imagem inconstante, uma visão muitas vezes turva e fugidia. Pode distorcer-se facilmente sob olhar alheio, tão suscetível aos caprichos da sociedade como às suas incertezas e preconceitos. Assim, o homem que vive preocupado com o juízo dos outros é como uma folha ao vento, sujeito às variações e humores do exterior, preso numa batalha interminável por aprovação. Uma má reputação pode ser um peso, certamente, mas é um fardo que reside fora de nós, nas opiniões que os outros formam e que, por mais relevantes que possam parecer, são superficiais e voláteis.

A consciência, porém, ocupa um domínio mais profundo, e o seu juízo é implacável e constante. Onde a reputação é vulnerável a interpretações, a consciência responde apenas ao conhecimento íntimo e verdadeiro do bem e do mal, daquele julgamento silencioso que cada um traz dentro de si e ao que não se pode escapar. É nesse tribunal secreto que se define a verdadeira paz ou tormento do espírito. A má consciência é um fogo que arde incessante, e não há reputação que a apague, não há prestígio social que lhe ofereça alívio. Uma vez desperta, a consciência torna-se o juiz e o carrasco, desvelando a culpa em silêncio e imponde uma punição que reside no próprio coração daquele que a carrega.

A reputação pode ser perdida ou restaurada, transformada ou recuperada ao sabor das circunstâncias e das convenções. O homem que a vê ruir pode ainda erguer-se, pode sobreviver ao olhar condenatório dos outros e prosseguir na sua senda. Mas a má consciência é um cárcere interior que não permite repouso, que sussurra as suas acusações no silêncio da noite que espreita por detrás de cada ata. Não se apazigua com elogios nem se dilui na multidão; é uma voz incansável que recorda ao indivíduo as suas faltas, que torna o sono inquieto e o olhar, reflexo de um peso que o próprio sabe não poder dividir com ninguém.

Os antigos, compreendendo a profundidade desta realidade, associavam a paz do espírito ao conhecimento de si mesmo, à aceitação de uma verdade interior que não se submete ao jogo das aparências. Para eles, o homem que escuta a sua consciência e age em consonância com ela alcança uma liberdade que os liberta da tirania das opiniões alheias. Esse é o verdadeiro ideal: viver não para a aparência, mas para uma integridade que nasce do respeito a si próprio e aos valores que o sustentam. Porque não há reputação que substitua a paz de uma consciência limpa, e não há condenação pública que seja mais árdua do que o fardo de uma culpa não resolvida.

E, talvez, esta seja uma lição essencial que a vida nos oferece: que o verdadeiro bem-estar não reside no reconhecimento público, mas na tranquilidade da alma, na serenidade de quem, em vez de se perder no olhar externo, encontrou na própria consciência a medida última dos seus atos. E assim, ao contrário, do eco incerto da reputação, a paz interior alcança-se ao saber que, por detrás do olhar dos outros, há um lugar onde apenas nós sabemos a verdade e é nesse silêncio que reside a nossa liberdade mais genuína.

 

por Carlos Vinhal Silva

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