Conhecemos melhor a freguesia de Sangalhos e fazemos o balanço de três anos de trabalho liderados, no seu primeiro mandato, por Artur Salvador. Além do que já está feito, perspetivamos o que falta fazer nos meses que nos separam das próximas eleições autárquicas.
Jornal de Anadia (JA) – Que balanço faz do mandato, agora que entramos na reta final?
Artur Salvador (AS) – Um balanço muito positivo. Estamos certos, quando aceitamos o desafio e fomos eleitos, que havia (e há) muito trabalho a fazer. Em 2021 estávamos saídos de uma pandemia, havia desmotivação no ar…. Estava muito por fazer, as pessoas cada um na sua vida, os movimentos a tentarem reerguer-se e a voltar a atividade, e portanto foi preciso trabalhar rápido e bem. Neste mandato, foi possível estruturar a junta na componente de intervenção, renovámos o parque de máquinas, veículos; formamos uma equipa, primeiro em conjunto com o centro de emprego e depois contratos. Hoje temos oito pessoas ao serviço das respostas da freguesia, três nos serviços administrativos e cinco no exterior.
Temos um plano anual de intervenção e um orçamento muito limitado, mas não deixamos nada por fazer…. Nada por fazer, das nossas competências, e dentro da nossa disponibilidade de recursos porque, obviamente, não é possível fazer tudo o que há a fazer. E foi preciso compreender a nossa realidade, o nosso enquadramento legal, e definir bem o que temos que fazer e podemos fazer. Não estamos para agradar a toda a gente, isso é missão impossível, mas estamos para trabalhar e hoje os resultados estão à vista: temos uma equipa interventiva em toda a linha, e isso vê-se dia-a-dia no terreno.
JA – Qual o maior problema com que esta freguesia se debate?
AS – O maior problema é mesmo a gestão de recursos, que esbarra completamente na lei das finanças locais, desajustada. Obviamente que é feito um esforço enorme ao nível do orçamento de estado, e que depois é acompanhado pela Câmara, mas ambos são insuficientes para a realidade atual da gestão de uma freguesia. Hoje, qualquer junta de freguesia, é responsável por uma gestão de proximidade, olhos nos olhos com as pessoas diariamente, e os recursos que são colocados à disposição não são nem suficientes, nem alinhados com o panorama atual.
Hoje, a nossa responsabilidade não é apenas limpar valetas e caminhos rurais. Somos os responsáveis por provocar as pessoas, trazê-las para a rua, discutir e adotar medidas positivas de intervenção comunitária, inclusiva, dinâmica, e para isso é preciso recursos que não estão disponíveis na medida certa. Podemos dizer que somos mais ambiciosos do que está definido nas competências de uma junta de freguesia? Muito mais, diria. E é correto contrariar a lei geral que regula os trabalhos dos órgãos do poder local, nomeadamente a parte que me toca, da junta de freguesia? Se calhar não, mas não há outra forma; temos de avançar e fazer o que é necessário fazer, porque a nossa governação é para as pessoas e não podermos escudarmo-nos, e muito menos hipotecar o futuro. Portanto, o maior problema? Somos uma freguesia enorme, maioritariamente urbana, e com poucos recursos para fazer o mínimo.
JA – A população da freguesia está envelhecida ou têm conseguido cativar jovens?
AS – A população está envelhecida não só em Sangalhos mas é matriz nacional. Não tenho atualização de dados atual, mas há três anos morriam cerca de 50 pessoas por ano e nascem 10…. Logo estamos em desequilíbrio populacional e a reposição natural é difícil e lenta. São precisas novas políticas governamentais, como solução da creche gratuita até aos 3 anos. É um passo, não é a solução. Cativar jovens é a nossa luta, mas será demorada, porque só pode ser feita por duas vias: habitação e emprego, e isso demora anos. Não são medidas de implementação rápida nem da alçada da junta de freguesia. Mas estamos a fazer caminho, já se nota que os jovens estão a ficar na freguesia e outros estão a chegar…. E aqui é preciso falar na imigração, que tem chegado e traz mão-de-obra, e está a fazer o seu caminho no processo de natalidade.
JA – Que perspetivas tem para o futuro da freguesia?
AS – O melhor futuro. Quem faz o que lhe compete e trabalha com sentido de missão, significa que está a fazer o que tem de ser feito, ou seja, a fazer caminho de futuro. Temos trabalhos a decorrer que não tem impacto imediato, mas dão-nos conforto para o futuro, estamos a estruturar a Junta de freguesia no seu todo, a trazer as pessoas para o debate público e a dinamizar o espírito de colaboração. Com este caminho e com modelos de trabalho mais informados também se preparam as pessoas para compreender o presente e perspetivar o futuro. Se acreditarmos no caminho que estamos a fazer, e acreditamos, só podemos ter as melhores perspetivas: queremos uma freguesia pujante; com envolvimento das pessoas, queremos valorizar os nossos recursos identitários e defender a bandeira da “Freguesia Vinhateira”. Um território com identidade garante o seu futuro e cativa as pessoas para cá viverem, trabalharem e se divertirem.
JA – Como é a relação da Junta de Freguesia com a autarquia?
AS – Nós temos a melhor relação com a autarquia; executivo e serviços. Fizemos o nosso trabalho de aproximação e fomos sempre bem recebidos. Sentimos que somos um braço de trabalho em constante colaboração com os serviços e o inverso também. Como já tinha dito, temos as nossas competências próprias, e as competências delegadas pela Câmara; no fundo a nossa grande missão é fazer muito com muito pouco e, para cumprirmos este objetivo, temos de ter a melhor relação com a Câmara no seu todo. Costumo dizer, nas reuniões de trabalho que, de facto, não há Junta de Freguesia sem Câmara Municipal e isto diz tudo. De vez em quando temos as nossas picardias, mas isso são coisas nossas de um povo lutador; nunca está bem com o que tem, quer sempre mais. Nós freguesia queremos sempre mais para os nossos fregueses.
Havia, no início do mandato, uma enorme expectativa porque eu era eleito pelo PSD e a Câmara era MIAP mas demorou pouco a perceber que com o fim das eleições somos todos autarcas a querem o melhor para as nossas comunidades, cada um na sua dimensão de território, financeira e poder de executar.
JA – O que está cumprido e o que ainda lhe falta fazer até ao final do mandato?
AS – Nós temos um plano a quatro anos que tem repercussões anualmente, ou seja, além das competências legais com intervenção no espaço público e serviços, implementámos uma verdadeira revolução na junta, no modelo de trabalho, recursos humanos, nas relações institucionais, etc… e, nesse sentido, diria que face aos compromissos assumidos, estamos num grau de concretização de mandato na ordem dos 95%. O que falta? Diria que até ao final do mandato falta realizar um desejo antigo que tem a ver com uma homenagem mais que justa aos Soldados do Ultramar. Temos vindo a trabalhar o contexto, para termos na freguesia este reconhecimento e homenagem, e gostaria de o deixar concluído.
De resto visitámos todos os compromissos assumidos; realizámos trabalho em todas as áreas identificadas e fomos incrementando novas (como o nosso projeto de artes performativas JUNTA.TE!, um projeto piloto para adultos e crianças), porque a cada passo dado, somos “obrigados” a mudar as prioridades. E aqui é o modelo de trabalho que conta, seja com intervenção direta da nossa equipa, seja com o apoio dos serviços da autarquia, seja com recursos a contratação externa.
Concluo, temos o trabalho de casa feito, o que falta, se falta, não depende de nós e tem de seguir o tempo, como é o caso do nosso Laboratório de ideias, que teve de ceder lugar temporário ao nosso Centro de Saúde, mas vai beneficiar das obras realizadas. Foi um verdadeiro projeto de equipa, que envolveu a MEO Portugal, a Câmara, a DGSC, e a Junta; não está terminado… mas a ideia está viva em progresso.
JA – Que diferenças vê entre a Junta que encontrou em 2021 e agora em 2024?
AS – Eu acho que não podemos falar em diferenças. O que está em causa são modelos de gestão diferentes; não posso dizer que o modelo anterior estava errado e agora está certo. A grande e única diferença é que neste mandato a prioridade foi capacitar a Junta com um quadro de pessoal capaz de dar resposta às necessidades da freguesia, seja nos serviços administrativos, seja nos serviços operacionais. A freguesia precisa disso, de cuidar do que foi feito e isso não estava acautelado de forma alguma; e esta é a grande diferença: temos uma estrutura de capacitação estrutural e de resposta para deixar às gerações seguintes.
AS – Temos hoje em Sangalhos 19 associação/instituições, umas com mais impacto que outras, mas todas capacitadas e a trabalhar num contexto conjunto de comunidade. Depois da pandemia foi possível lançar mãos à obra, e trazer todos ao espaço público e disso temos o reflexo da edição de 2024 do Associativismo Festa. Todos os presentes a trabalhar para todos, isto é uma revolução e um enorme exemplo do associativismo. Tem caminho a percorrer, porque não estiveram todos e é por isso que há sempre algo a fazer e situações a melhorar, a começar pela comunicação. Tecnicamente o associativismo é hoje muito dinâmico, embora esteja circunscrito a 50% da nossa comunidade, ou seja, mais de metade dos Sangalhenses, não estão envolvidos em nenhuma associação e não participam em nenhuma atividade… e isso não é um problema, porque em Democracia devemos respeitar todos, os que se querem envolver e os que não se querem envolver; mas não deixa de ser um desafio motivar todos e contrariar esta tendência.
O papel da junta de freguesia? Apoiar dentro da sua possibilidade estrutural e financeira. O nosso critério é claro: à junta não compete fazer e entrar em concorrência com as nossas associações e temos associativismo suficiente para dar uma resposta ampla em todos os quadrantes; por isso mesmo, instigamos puxamos pelas pessoas, muitas vezes “provocamos” e ficamos na retaguarda no apoio. É este o nosso critério. É este o nosso modelo. As pessoas têm que estar à frente da realização política porque esta é efémera; e queremos que independentemente de quem esteja na gestão pública, as pessoas possam fazer a diferença e dar seguimento aos projetos e as ideias.
JA – Porque decidiu ser candidato pelo PSD?
AS – Eu não decidi ser candidato. Fui convidado. E não tinha um argumento válido que me permitisse dizer “não estou disponível”, porque sou crítico, mas também sou pessoa de trabalho, e como havia trabalho (e muito) a fazer, não havia motivo para dizer que não. Pelo PSD? Pois, se sou militante de base do partido, só faz sentido ser candidato pelo meu partido. Quando isso não for possível, será trabalho para outros.
JA – A recandidatura está em cima da mesa?
AS – Eu candidatei-me com uma equipa para um projeto a quatro anos; infelizmente, a meio, um dos meus colegas, o Joaquim Cerca, foi chamado a outras funções e deixou-nos. Não estava preparado, mas tivemos de dar a volta, recompor-nos para continuarmos a trabalhar para concretizar o grande objetivo da candidatura “Renascer Sangalhos”. Estamos a consegui-lo e muitíssimo bem; mas não sozinhos. Isto nunca é um trabalho de uma Junta só por si; não é nem será, mas sim um trabalho de muitas pessoas, muitas instituições, muita negociação, compromisso, responsabilização, diálogo e informação.
Recandidatura? Nunca esteve em cima da mesa. Este sempre foi um projeto para cumprir a quatro anos, pelo que ainda temos trabalho pela frente e problemas para solucionar, é esse o compromisso. Depois logo se vê se é necessário a minha colaboração para o trabalho, a política é isto mesmo: caminho, avaliação, ponderação e decisão.
Aliás, em Sangalhos não faltam pessoas capazes e com competência para gerir a coisa pública, com a capacidade instalada e disponível. Todos os dias na rua me dizem isso.
JA – Que mensagem quer enviar à população da sua freguesia?
AS – É a mensagem que partilho em todos os momentos da vida pública e que partilhei no dia da minha tomada de posse: “Isto só resulta se houver o envolvimento e a participação de todos”. Ou seja, todos devemos ter um papel ativo; é aqui uma questão da responsabilização comunitária. A Junta de Freguesia, só por si, questiona todos os dias qual o sentido da sua existência na governação local, uma vez que é quem dá a cara na gestão de proximidade, mas é o órgão do poder local menos capacidade de resposta. Portanto, não há forma alternativa. Colaboremos mais em detrimento do assistencialismo.